Uma foto de uma criança negra virou arte premiada em uma famosa convenção de tatuagem brasileira.
O pequeno Ayo de 4 anos foi tatuado no braço de um participante do evento Tattoo Week em São Paulo. Mesmo sem qualquer autorização ou vinculo com a família, o tatuador Neto Coutinho utilizou para concorrer na categoria Portrait, o retrato retirado de um ensaio fotográfico da família da microempresaria Daniele de Oliveira Cantanhede, conhecida como Preta Lagbara, de 42 anos.
— Muito me incomoda quando vejo pessoas entrarem em comunidades e fotografarem crianças. Depois, as fotos vão parar em festivais e premiações sem sequer a família ficar sabendo. - Disse Daniele
O fotógrafo autor da foto de Ayo também se pronunciou sobre o caso:
“Estamos cansados de ver fotos premiadas e a gente nem sabe quem está ali. Quando tiramos uma foto sem permissão, isso acaba com a privacidade. Nas minhas fotos, busco capturar o sorriso, a felicidade, principalmente do povo preto”. - Disse Ronald Santos Cruz.
Através das redes sociais, o tatuador premiado tambem se pronunciou:
"Não foi intenção. Não quis ferir ninguém e também não ganhei nada com isso. Vi a imagem, achei bonita e realmente esqueci do que vem por trás: procurar saber quem fez, se os pais iriam gostar. Não queria que isso gerasse nenhum tipo de briga. Não tive intenção nenhuma de ferir orgulho nem desrespeitar a família de ninguém, jamais. Mas fica a lição: tem que ter um pouco mais de cuidado na hora de escolher as fotos e, se for algo que tenha direitos autorais, conversar com o dono. Achei a imagem bonita, linda, forte. Já fiz várias, não foi a primeira vez. Já fiz outros retratos de pessoas pretas".
A família de Ayo pede indenização por danos morais, além da remoção ou cobertura total da arte. A respeito disso, o tatuador Neto Coutinho publicou no dia 23 de Dezembro a seguinte nota:
"Como eu havia me comprometido ratifico que as medidas necessárias para atender a solicitação da Preta Alagbara, mãe da criança, no sentido de providenciar a cobertura daquela imagem na pele da pessoa que serviu de tela durante a convenção, foram adotadas por mim por mera liberdade e sem assunção de responsabilidade."
O advogado que acompanha a família de Ayo pronunciou-se a respeito do caso afirmando que ainda não havia sido enviada nenhuma evidencia de que a foto havia sido coberta por uma nova arte.
"O posicionamento oficial do artista encontra-se fixado em seu Instagram e o mesmo se reservará ao seu direito de silêncio". Afirma o advogado do artista
O evento que premiou o artista alega que os familiares não entraram em contato, mas que se colocam a disposição das partes lesadas.
Em tempos onde ferramentas tecnológicas como a IA são capazes de gerar imagens e fotografias sem identidade, o caso ocorrido em meados de 2022 levanta o debate a respeito dos direitos autorais das imagens nas composições artísticas de tatuagem.
Por fim, a mãe do pequeno Ayo se expressa dizendo: “A questão não é a arte dele, ele é muito bom. Mas isso não é um problema meu. Eu quero saber por que ele tatuou o rosto do meu filho no corpo de um homem que a gente não sabe quem é.”
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