Se mesmo em pleno 2024 uma tatuagem ainda pode atrair alguns olhares preconceituosos, fechar algumas portas de emprego e até gerar questionamentos, podemos imaginar como seria um monarca ser tatuado em 1890. Esse foi Nicolau II, o ultimo Czar russo.
Em uma época em que tatuagens eram consideradas cultura da plebe, e altamente desaprovadas pela realeza, o jovem herdeiro do trono russo chocou a monarquia ao aparecer com uma tatuagem de dragão no braço direito após uma viagem ao exterior.
Em 1890 Nicolau havia sido enviado para uma expedição a fim de estudar culturas estrangeiras, acreditando que isso o prepararia melhor para assumir o trono.
Foi quando aportaram em Nagasaki que o jovem Nicolau foi visitado por dois mestres de tatuagem japoneses. No dia seguinte relatou em seu diario:
“16 de abril. Terça-feira. Acordei com um dia lindo, a costa estava acenando. As ruas e casas de Nagasaki causam uma impressão maravilhosamente agradável: tudo é perfeitamente limpo e arrumado, é um prazer entrar em suas casas e os próprios japoneses e mulheres japonesas são pessoas tão cordiais e amigáveis. Voltamos à fragata às 5 horas para o chá. Depois do jantar, resolvi fazer uma tatuagem de dragão no braço direito, que levou exatamente sete horas, das 21h às 4h, para ficar pronta! Basta passar por esse tipo de prazer uma vez para me desencorajar a embarcar nele novamente. O dragão ficou muito bom. E minha mão não doeu nada!”
Acredita-se que a escolha do dragão para a tatuagem representa o ano de nascimento do monarca de acordo com o calendário chinês.
A tatuagem é um dragão tradicional oriental que vai da parte inferior do antebraço até o cotovelo.
O caso de Nicolau II é um exemplo importantíssimo para a historiografia da arte da tatuagem, pois demonstra como a paixão e a vontade de escrever a própria história na pele em forma de desenho ultrapassa as fronteiras de classe.
A tatuagem de Nicolau II foi uma das muitas peculiaridades de sua vida. Seu reinado terminou tragicamente com a Revolução Russa de 1917, e ele e sua família foram executados pelos bolcheviques.
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